Os
seguintes extratos são do artigo intitulado "Lutero e a Ciência" de
Donald Kobe, professor de física na Universidade do Texas:
Sem
a Reforma, a ciência moderna se teria provavelmente desenvolvido mesmo assim por causa do ethos da racionalidade e da doutrina da criação que conduz a
ela. A Reforma, porém, acelerou o desenvolvimento pela sua crítica do
escolasticismo e pela sua ênfase na observação direta da natureza. Lutero foi
chamado o Copérnico da teologia enquanto, por outro lado, Copérnico foi chamado
o Lutero da astronomia... Na filosofia natural ou ciência, as perguntas acerca
da natureza já não se respondiam primariamente mediante citações de Aristóteles
e dos escolásticos, mas atentando para a observação e para a experimentação na
própria natureza. Similarmente, depois da Reforma, os protestantes já não
respondiam perguntas de teologia primariamente através da citação de filósofos e
teólogos escolásticos, mas voltando-se diretamente para a Bíblia. Lutero
interpretou a Escritura perguntando: Qual é o significado claro e direto do
texto? Os cientistas interpretam a natureza da forma mais simples possível
usando o mínimo número de hipóteses.
Lutero
acreditava que o mundo estava no começo de uma nova era, a qual traria não
somente uma reforma na religião mas também um novo apreço pela natureza. Nas
suas informais “Conversas à Mesa” disse:
«Estamos
no amanhecer de uma nova era, pois estamos começando a recuperar o conhecimento
do mundo externo que foi perdido pela queda de Adão. Agora observamos
apropriadamente as criaturas... Mas pela graça de Deus já reconhecemos na mais
delicada flor as maravilhas da divina bondade e omnipotência [paráfrase de
Romanos 1:20]».
Lutero
estava aberto aos autênticos avanços científicos da sua época. Apreciava as
invenções mecânicas do seu tempo.
Aceitou
o uso de medicamentos para tratar as doenças ... A alguém que disse que não é
permissível para um cristão usar medicamentos, Lutero lhe replicou
retoricamente, “Você come quando está esfomeado?” Segundo Andrew White, esta
atitude de Lutero fez que as cidades protestantes da Alemanha estivessem mais
dispostas do que outras a admitir a investigação e dissecção anatómica.
Lutero
aceitou a astronomia como ciência, mas rejeitou a astrologia como uma
superstição pois não pode ser confirmada por uma demonstração... por exemplo,
Lutero estava disposto a aceitar a conclusão dos astrónomos de que a lua é o
mais pequeno e baixo dos “astros”. Interpretava a Escritura que chamava o sol e
a lua “grandes luminárias” como acomodada à aparência dos fenómenos.
...
Em
conclusão, a influência luterana sobre o desenvolvimento da ciência foi
geralmente positiva. Lutero, e também Calvino, rejeitaram a ideia de que as
vocações religiosas são superiores às seculares. Os homens e as mulheres devem
servir a Deus realizando um trabalho honesto e útil com diligência e
integridade. O trabalho científico revela a obra de Deus num universo que é tanto
racional como ordenado. Também proporciona resultados que podem ser usados para
o benefício da humanidade.
...
Lutero
não estava primariamente interessado na ciência. Mas a Reforma criou um clima
de abertura e aceitação de novas ideias, que em geral alentaram o
desenvolvimento científico. Depois do julgamento de Galileu em 1633, as áreas
protestantes da Europa dominaram os descobrimentos científicos [Owen Gingerich,
"The Galileo Affair", Scientific American 247 (August 1982):
132-143].
http://www.leaderu.com/science/kobe.html